Vou voltar para o Rio Grande do Sul para falar do incrível livro Incidente Em Antares de Érico Verissimo. O livro é dividido em duas partes: a primeira parte, Antares, mostra como era o país e o mundo na época de 1950. O suicídio de Getúlio Vargas, a história de Antares, cidade do interior gaúcho que é dominada pela disputa de duas famílias poderosas, os Vacariano e os Campolargo. Entre disputas (e desavenças) e alianças, as duas famílias poderosas da cidade vivem e testemunham a história brasileira de uma perspectiva local. Já a segunda parte, o incidente, começa em 11 de dezembro de 1963, quando acontece (e é decretada) a greve geral na cidade, iniciada por funcionários das indústrias da região. Até os funcionários do cemitério local se aderem à greve geral, e a cidade fica sem enterro de sete mortos. Sem enterro, os mortos se levantam dos caixões (acreditem, eles saem dos caixões) e se dirigem para a cidade, provocando pânico geral na cidade. É um livro excelente. E é o último romance de Érico Verissimo, publicado em 1971, e o livro faz parte do Realismo Fantástico (escola literária que surge no inicio no Século XX. Tem como maiores expoentes o colombiano Gabriel García Márquez, o peruano Manuel Scorza. Aqui no Brasil, destacam-se Murião Rubião, José J. Veiga e Luís Bustamante [autor do livro Histórias do Vento Forte] e parte da obra de Dias Gomes [exemplo da novela Saramadaia]. Os aspectos desta escola estão presentes em romances e contos de realismo mágico, mas não necessariamente estão presentes em todas as obras da mesma. Alguns aspectos são:
Conteúdo de elementos mágicos ou fantásticos percebidos como parte da "normalidade" pelos personagens;
Elementos mágicos algumas vezes intuitivos, mas nunca explicados;
Presença do sensorial como parte da percepção da realidade;
Os acontecimentos são reais mas têm uma conotação, pois alguns não têm explicação, ou é muito improvável que aconteçam;
O tempo é percebido como cíclico, como não linear, seguindo tradições dissociadas da racionalidade moderna;
O tempo é distorcido, para que o presente se repita ou se pareça com o passado;
Transformação do comum e do cotidiano em uma vivência que inclui experiências sobrenaturais ou fantásticas;
Preocupação estilística, partícipe de uma visão estética da vida que não exclui a experiência do real.