Muito mais do que uma coletânea de contos, Guerra de Ninguém, de Sidney Rocha é o resultado de um trabalho quase artesanal de depuração da palavra, de uma narrativa densa e precisa, que leva o leitor a mergulhar na perspectiva do indizível, projetando os diversos tipos de mortes relatadas nos contos como uma visão das próprias perdas interiores do 'ninguém' que habita em cada um de nós, como um grito silencioso e dolorido que transcende o texto e atinge em cheio a nossa alma, como um impacto de uma bala, talvez a mesma bala presente nas narrativas do livro. Sidney Rocha faz referência às várias guerras interiores que travamos, como é enfatizado no conto que abre o livro, Clara e Carmelita: ‘Era um tempo de tomada de decisões, não se pode ficar em cima do muro a vida toda.’ A exatidão e a independência formal que norteiam as obras do autor ficam nítidas nesse livro, assim como a formação quase artesanal da palavra em cada conto, a precisão quase cirúrgica do texto. A medida da expressão da palavra faz de Guerra de Ninguém um livro de uma escrita forte, instigante e sedutora, o que torna a leitura um ato de intensidade tal que, como sugere o autor, é como se em cada parágrafo "o leitor tivesse a sensação de um tiro".
Guerra de Ninguém: um livro para quem aprecia a boa literatura, feita para impactar e refletir, e para quem sabe ler além do texto, consegue enxergar nas entrelinhas e mergulhar no contexto mais íntimo da obra.
Esse é Guerra de Ninguém, de Sidney Rocha.
Sidney Rocha é cearense e radicado em Pernambuco. Vencedor do 52º Prêmio Jabuti (2012), por O destino das metáforas e o Prêmio Osman Lins (1985), por Sofia, uma ventania para dentro.
Autor de Sofia, uma ventania para dentro (1994), Matriuska (2009), O destino das metáforas (2011), Fernanflor (2015), Guerra de Ninguém (2016).
Texto de Josy Almeida, escritora, contista e aluna da Oficina Literária de Raimundo Carrero – Recife - PE