Poeta, romancista, cineasta e crítico de arte: esse é Fernando Monteiro, autor de Contos Estrangeiros (Confraria do Vento - outubro, 2017) seu segundo livro nesse gênero de histórias curtas. O primeiro foi Armada América, finalista do prêmio Portugal Telecom, 2004. Curtas, porém fortes. A consistência das narrativas dá força e densidade aos quinze contos, que sinalizam as descobertas de um “eu” externo à própria consciência, numa viagem a terras estrangeiras, que simboliza o conhecimento do nosso próprio universo interior através de uma nova perspectiva.
São textos independentes, porém, neles percebemos uma ligação, um fio condutor, que nos guia conto a conto. Essa temática comum internalizada no livro, aguça nossa percepção e nos faz descobrir sempre algo novo, seja sobre nós, seja sobre o outro, numa visão dualista do humano.
Na independência, a unidade. Em contos como Petra, que abre o livro, e Reprise, um dos últimos, percebemos, assim como em todas as outras treze narrativas, a perspicácia do autor em nos conduzir sutilmente à compreensão de nós mesmo, através de personagens e lugares aparentemente “estrangeiros”, porém de modo a não nos desfazermos dessa unidade, que é o resultado da linha que norteia todos os textos do livro através de cada “viagem” que fazemos entrelaçados por essa perspectiva de conexão. De tal forma que os três títulos finais desdobram o último conto (à maneira quase de "remakes" que reinicializam a narrativa).
Contos estrangeiros é o resultado de uma escrita forte e carregada de significados, de um autor tido muitas vezes como rebelde, não apenas por suas opiniões, mas também pelas suas atitudes de não se deixar influenciar e sempre agir de acordo com suas convicções, independente da repercussão que isso possa causar, como aconteceu na XI Bienal Internacional do Livro, em Recife, outubro de 2017 (na qual foi um dos homenageados, juntamente com Lima Barreto) onde, em uma manifestação política de repúdio ao governo Temer, Fernando Monteiro retirou-se do auditório à chegada do Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, na abertura do evento.
Texto de Josy Almeida, escritora, contista. Natural da cidade de Garanhuns – PE, reside atualmente na cidade Recife. É Servidora Pública Federal, Técnica em Educação da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Ex-aluna da Oficina de Criação Literária do premiado escritor Raimundo Carrero.