Vou falar de vulcões hoje. O livro de hoje se chama O amante do vulcão, terceiro romance de Susan Sontag, lançado em 18/06/1993 pela Editora Companhia Das Letras, incorpora contradições no mínimo instigantes. Trata-se de uma história realista, moderna em sua polifonia de vozes narrativas. Nela se agitam personagens históricos desentranhados da fase heroica do período romântico: o final do século XVIII. Sir William Hamilton, embaixador britânico no Reino das Duas Sicílias, sua segunda mulher, Emma, humilde, porém belíssima cortesã inglesa guindada à posição de confidente e conselheira de uma rainha, e o maior herói marítimo da Inglaterra, lord Nelson, são os míticos protagonistas desta narrativa histórico-ficcional. A compulsão de redesenhá-los em escala humana, imperativo tipicamente ensaístico, só fez aumentar a voltagem dramática das peripécias em que se veem envolvidos. Sem dúvida, temos aqui uma história apaixonante sobre pessoas apaixonadas. Sir William Hamilton, embaixador britânico no Reino das Duas Sicílias, sua segunda mulher, Emma, bela cortesã e confidente da rainha, e o maior herói marítimo da Inglaterra, lorde Nelson, são os protagonistas deste romance histórico. Uma narrativa apaixonante sobre pessoas apaixonadas. Depois de muitos anos de um casamento estéril e conveniente com uma aristocrata que lhe inspirava muito mais respeito afetuoso que autentico desejo, Hamilton. – “IL Cavalaiere” – colecionador de arte e antiguidade, além de vulcanólogo pioneiro, sucumbe à paixão ardente que lhe inspira a deslumbrante e talentosa Emma, concubina de um sobrinho e oportunista. Ao fundo, a pitoresca, miserável e socialmente explosiva Nápole, fervilhando de ideais republicanos no sopé do seu mais famosos e temível símbolo que é vulcão Vesúvio. Em meio a essa paixão, estabilizada (mas nunca diminuída), dentro de um cotidiano matrimonial pleno de festas e refinados passatempos, adentra a cena um novo personagem, em ritmo marcial, com um braço a menos e o peito cravejado de medalhas conquistadas em duras batalhas: o Herói, semideus dos mare e salões aristocráticos – almirante Horace Nelson em pessoa, futuro vencedor e mártir de Trafalgar. O triangulo Hamilton-Emma-Nelson, segundo a tão precisa quanto arrojada geometria ficcional de Susan Sontag, demonstra-nos que o verdadeiro amor correspondido faz mais do que mover montanhas – ele é a própria montanha, um vulcão que cumpre o ciclo de sua fatalidade: fumaça, erupção, lava incandescente, chamas, grandes abalos; depois o repouso e as cinzas. As cinzas, e uma trepidante história de amor a ser contada. O Livro O amante do vulcão é vencedor do prêmio Príncipe de Asturias em 2003.