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Foto do escritorClaudio Correa Monteiro

Nove noites


Eu vou falar do livro de Bernardo Carvalho Nove noites. Em 1939, o antropólogo americano Buell Quain se matou, aos 27 anos, ao tentar voltar para a civilização, vindo de uma aldeia indígena no interior do Brasil. Sessenta e dois anos depois, ao descobrir o episódio por acaso, o narrador de Nove noites começa uma investigação obsessiva para elucidar o suicídio e acertar contas com a própria história. Na noite de 2 de agosto de 1939, um jovem e promissor antropólogo americano, Buell Quain, se matou, aos 27 anos, de forma violenta, enquanto tentava voltar para a civilização, vindo de uma aldeia indígena no interior do Brasil. Ele viveu entre os índios Krahô no Tocantins (na época, não existia o estado do Tocantins, pois Tocantins “pertencia” ao estado de Goiaz [não leram errado, Goiaz era escrito com z] e o estado Mato Grosso não tinha se transformado em Mato Grosso do Sul [o que ocorreu em 11 de outubro de 1977, devido ao decreto-lei assinado nesse dia, e o estado de Rondônia foi criado em 1982) e outras tribos brasileiras na década de 1930. Antes de morrer, o antropólogo americano deixou cartas para os seus familiares, amigos e colegas de trabalho. O narrador do livro conheceu o episódio em um artigo de jornal, 62 anos após o ocorrido, e ele passa a pesquisar de uma forma obsessiva a vida de Buell. O livro passa em dois tempo: na época de Buell e em 2001, quando a história se passa. O caso se tornou um tabu para a antropologia brasileira, foi logo esquecido e permaneceu em grande parte desconhecido do público. Sessenta e dois anos depois, ao tomar conhecimento da história por acaso, num artigo de jornal, o narrador deste livro é levado a investigar de maneira obsessiva e inexplicada as razões do suicídio do antropólogo. Em sua busca obstinada pelas cartas do morto ou pelo testamento de um engenheiro que ficara amigo do antropólogo nos seus últimos meses de vida, o narrador é guiado por razões pessoais que não serão reveladas até o final do romance, mas que dizem respeito à sua experiência de criança na selva, à história e à morte de seu próprio pai. Nove noites narra a descida ao coração das trevas empreendida pelo jovem expoente da antropologia americana, colega de Lévi-Strauss e aluno dileto de Ruth Benedict, às vésperas da Segunda Guerra. A história é contada em dois tempos, na tribo dos índios krahô (interior do sertão brasileiro) e na combinação progressiva entre a busca pelo testamento do engenheiro e a pesquisa que o narrador vai fazendo em arquivos, atrás das cartas do antropólogo e dos que o conheceram na época. Para escrever o livro, Bernardo Carvalho travou contato com os Krahô, no Estado do Tocantins, e foi aos Estados Unidos em busca de documentos e pessoas que pudessem saber algo sobre o antropólogo. A história de Buell Quain revela as contradições e os desejos de um homem sozinho numa terra estranha, confrontado com os seus próprios limites e com a alteridade mais absoluta, numa narrativa que faz referências aos romances de Joseph Conrad e aos relatos do escritor inglês Bruce Chatwin. O livro mistura relatos da vida do antropólogo Buel Quain com as elucubrações (elucubração (latim elucubratio, -onis) substantivo feminino Ato ou efeito de elucubrar ((latim elucubro, -are, trabalhar à noite) verbo intransitivo Trabalhar com luz artificial, de noite, verbo transitivo e intransitivo, Passar as noites estudando, Dedicar-se a longos trabalhos intelectuais. = MATURAR, MEDITAR, PENSAR, PONDERAR, fazer .conjeturas ou especulações sobre algo. = .CONJECTURAR, DIVAGAR, ESPECULAR sinônimo Geral: LUCUBRAR Palavras relacionadas: elucubração, lucubrar, lucubração.) (Trabalho intelectual ou trabalho manual em horas que se deviam dedicar ao repouso, Estudo aturado, meditação, Reflexão baseada em dados hipotéticos ou imaginários.) do autor. O livro, vencedor do prêmio de literatura da Biblioteca Nacional e de Portugal Telecom, é sensacional e é lançado em 2003 pela Editora Companhia das Letras, além de ser lido em pouco tempo por não é um romance qualquer.


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