
Eu vou falar do livro A Roda do mundo, escrito por Edimilson de Almeida Pereira e Ricardo Aleixo, lançado pela editora Objetivo Livro em 2004 e é um livro de poemas fantástico. "Há alguns anos, apenas, se a gente falava de uma poesia, de uma poética negroafricana, olhavam para nós de um jeito estranho, até encabulado, como se estivéssemos alimentando 'invenciones' populistas. Criações verbais que não fossem escritas e se enquadrassem no campo da literatura ocidntal-européia eram vistas como 'folclore', coisas para-literárias, que serviriam no máximo para adornar obras de verdadeiros literatos. Mas as coisas mudam, sim, e vão continuar mudando: o mundo dá voltas - a roda do mundo gira, camará. Hoje, falamos tranquilamente das poéticas iindígenas e africanas, e quem entende do riscado reconhece o poder e a sofisticação dessas linguagens." Antônio Risério - poeta e antropólogo, no prefácio de A roda do mundo. O livro possui um conjunto de poemas separados em "nós, os bianos" e "orikis" enquanto o primeiro conjunto lembra cantigas e parece introduzir e explicar; já o segundo conjunto que foi o que eu mais gostei são poemas sobre alguns orixas falando um pouco de sua origem seis feitos e os enaltecendo, além de falar de algo importante que muitas vezes é mal visto pela nossa sociedade como as religiões de matriz africana. Esse curioso livro reúne dois conjuntos de dez poemas, "Nos, os bianos" e "Orikis", de dois autores da mesma geração e igualmente fortes, Edimilson de Almeida Pereira e Ricardo Aleixo. Do Aleixo já li vários livros ("Modelos vivos", "Impossível como nunca ter tido um rosto", "Máquina zero"), do Edmilson nunca havia lido nada. Como o antropólogo e também poeta Antonio Risério explica em uma breve introdução ao livro, os dois poetas retrabalham coisas e espíritos muito antigos, característicos de lugares distintos do continente africano, dando-lhes a roupagem para que sejam incluídos no repertório cultural contemporâneo brasileiro. Edmilson é tributário da etnolinguística Banto e Aleixo das culturas Jeje e Nagô. Os dez poemas de "Nos, os bianos", de Edimilson, parecem cânticos, letras de uma teogonia fragmentada, fundida a elementos de um sincretismo em construção. Nos dez de Aleixo, em "Orikis", faz-se um censo poético dos orixás, com o poeta - feito um Janus - olhando simultaneamente para os arquétipos desses ancestrais divinizados e para o leitor desse nosso tempo conturbado. O livro inclui um glossário de termos bantos e iorubás, além de uma pequena bibliografia. São vinte poemas brevíssimos, mas muito poderosos. Evoé.

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