Eu vou falar do livro Contraponto (Point Counter Point, em seu título original), publicado em 1930, e que é um romance escrito por Aldous Huxley. Está na posição 44 dos 100 melhores romances do século XX, publicada pela Modern Library. Do mesmo autor de Admirável mundo novo, um dos maiores clássicos da literatura do século XX, este Contraponto surpreenderá o leitor que espera outra ficção científica, ou um mundo tecnologicamente distante do nosso. Entretanto, confirmará vários dos elementos que estão em Admirável, e que foram tão caros a Aldous Huxley: o desencontro entre as pessoas, a frieza nas relações, a dificuldade de expressão, e o mundo avassalador que incita os homens, e os afastam. Afora o cenário árido dos sentimentos, sempre a mesma esperança de Huxley, um tanto melancólica, de que o as pessoas, finalmente, se encontrem. Publicado em 1930 e presente em várias listas dos Cem melhores romances do século XX, o livro é um retrato da sociedade decadente, que passa a forçadamente rever seus valores quando a aristocracia e o dinheiro “antigo” já não mais sustentam a imagem de uma sociedade ideal. Contraponto é um mosaico de personagens, agrupados em núcleos, que vão de uma aristocracia decadente a ricos emergentes na sociedade inglesa do início do século XX. E, neste cenário, abre-se todo espaço para que Huxley, a partir das relações entre as personagens, teça como que um grande ensaio sobre os valores morais e éticos, a ciência, a religião, a arte. Cada um desses elementos é personificado por uma ou mais personagens, e como numa sinfonia, é possível ir discernindo cada uma das pequenas melodias que a compõem. É dessa maneira que Contraponto torna-se um delicioso, ainda que melancólico, retrato de nossa época – sim, ainda de nossa época. Melancólico porque há a guerra, a hipocrisia, a mesquinharia e o onipresente dinheiro regendo tudo. Mas delicioso porque a figura da mulher, exemplarmente pintada em Lucy, surge inteligente, independente e emancipada. E o grotesco da sociedade marca o tempo da sinfonia e, se é triste, não deixa de ser um primor da criação de Huxley.
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