Eu vou falar do livro Eles eram muitos cavalos, escrito por Luiz Ruffato, lançado pela Editora Record em 2011. Lançado originalmente em 2001, o romance Eles eram muitos cavalos tornou seu autor num grande sucesso de público e crítica. Com uma voz literária original e arrebatadora, Luiz Ruffato retrava um dia na vida de São Paulo, combinando recursos de sua formação jornalística a inovações formais e estéticas. O romance, que chega neste relançamento à sua 11a- edição, seria ainda vencedor dos prêmios APCA e Machado de Assis. Considerado pelo jornal O Globo um dos dez melhores livros de ficção da década, está publicado em Portugal, na França, Itália, Alemanha, Colômbia e Argentina. O nove de maio de 2000 é um dia qualquer em São Paulo. Os habitantes seguem realizando pequenos e grandes feitos cotidianos, protagonistas de uma narrativa subterrânea, que representa, ao fim e ao cabo, o próprio tecido da cidade. Para captar essa polifonia urbana, Ruffato estruturou seu romance em 69 episódios, cada qual com registro e fôlego próprios, alternando entre poesia, discurso publicitário, música, teatro e prosa, instantâneos de uma cidade que só se move deixando para trás um rastro de esquecidos. Ao jogar luz sobre esses anônimos, o autor iluminou também as circunstâncias em que eles se confrontam, em atos que se alternam entre a solidariedade e a frieza. Doze anos depois de sua publicação, Eles eram muitos cavalos ainda é um retrato atual e doloroso da vida na grande cidade. O título do romance faz uma alusão ao poema de Cecília Meirelles, “Dos Cavalos da Inconfidência”. O romance veio da ideia de Ruffato de escrever uma espécie de tributo sobre São Paulo, a cidade que o acolheu como a tantos outros brasileiros. A estrutura do livro surgiu da incapacidade de se apreender esta metrópole, devido a sua extrema dinamicidade e multiplicidade. Assim, o autor buscou outras maneiras de expor essa pluralidade no livro, valendo se de registros literários e não-literários como o estilo da publicidade, do teatro, do cinema, da música, da descrição, da narração, da poesia, etc. Ruffato afirma que o livro não é no seu ponto de vista um “romance” tradicional, mas uma espécie de “instalação literária”.
Claudio Correa Monteiro