Eu vou falar do livro Henfil na China (antes da Coca-Cola), escrito por Henfil, lançado em 1980 pela editora: Codecri. É um excelente livro-reportagem da viagem de Henfil para a China em 1977. A viagem se deu pouco menos de 1 ano após a morte de Mao Zedong, no momento de virada entre a Revolução Cultural e a ascensão de Deng Xiaoping. Ainda estavam longe da guinada pró-mercado de Deng Xiaoping, sob a recém empossada gestão de Hua Guofeng (que introduziu lentamente reformas, buscou reverter excessos da Revolução Cultural ao passo que mantinha a proeminência da figura de Mao) e muitíssimo perto ainda do igualitarismo que marcou a Revolução Cultural. Esse momento único da história chinesa, que sumiria rapidamente com as reformas pró-mercado nos anos 1980, foi brilhantemente retratado pela sensibilidade comum de Henfil. Henfil é um personagem mergulhado numa grande ignorância sobre a história da China e sua política assim como em ciências humanas. Seu olhar é o do homem comum, o de um sujeito com inclinações anti-imperialistas e que admira sonhos de vida igualitária e direitos para todos mas que também está imerso no imaginário liberal (embora longe de ter grandes resistências com a organização de poder popular comunitária chinesa ... pelo contrário ... admira-a muito). A completa ignorância de Henfil sobre a história do país grita e ele desconhece os processos recentes (os eventos do século XX e mesmo as idas e vindas do PCCh), as figuras proeminentes (fora Mao, aparenta ouvir pela primeira vez os nomes da política chinesa na viagem mesmo) bem como noções gerais de história do país (imagina europeus submetendo a China por muitos séculos, etc.).
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