Eu vou falar do livro Pais e Filhos (mesmo título de uma excelente música do grupo de rock brasiliense Legião Urbana, lançado em 1989, no álbum As Quatro Estações pela gravadora EMI. A música, uma das mais emblemáticas da Legião Urbana, tem o mesmo nome do clássico russo escrito por Ivan Turguêniev. Lançado em 1862, a obra criou polêmica ao popularizar o termo “niilista”, através do personagem Bazárov, que é antissocial e não reconhece nenhuma autoridade. Quando alguns radicais políticos colocaram as teorias do personagem em prática através de atos criminosos, Turguêniev foi acusado de ser o responsável por eles. Mais de cem anos depois, o adjetivo “niilista” foi usado para definir o movimento punk, que inspirou Renato Russo a montar sua primeira banda, o Aborto Elétrico.), que é a obra-prima do escritor russo Ivan Turguêniev, publicada originalmente em 1862, como disse anteriormente, uma época de grande perturbação social e política em seu país. Foi nesta obra que se popularizou o termo niilismo, aplicado ao protagonista Bazárov, para descrever uma espécie de rebeldia que "não se inclina a nenhuma autoridade nem aceita nenhum princípio sem exame". Bazárov é um jovem intelectual materialista, que nega o amor, a arte, a religião e a tradição, e diz acreditar apenas em verdades cientificamente comprovadas pela experiência. O personagem teria sido inspirado num médico que o próprio escritor conheceu pessoalmente. "O lugar insignificante que ocupo é tão minúsculo em comparação com o resto do espaço em que não estou e onde não se importam comigo. A parcela de tempo que hei de viver é tão ridícula em face da eternidade, onde nunca estive e nunca estarei... Neste átomo, neste ponto matemático, o sangue circula, o cérebro trabalha e quer alguma coisa... Que estupidez! Que inutilidade!"- Bazárov refletindo sobre a inutilidade da vontade de viver. No decorrer da obra, Bazárov se apaixona e dessa forma o livro apresenta uma crítica ao niilismo, fato que fez com que fosse criticado pelos intelectuais da época, militantes do niilismo. No livro, Turguêniev coloca em choque a juventude (geração de 60) e os conservadores (geração de 40), estes descritos pelo jovem personagem Bazárov como "cartas fora do baralho", o que evidentemente desagradou a quem se identificava com a geração dos "pais". Turguêniev enfatiza sua crítica ao niilismo demonstrando seu caráter destrutivo nas relações sociais. Bazárov, indiferente e frio com todos que o amam, causa-lhes sofrimento e, por fim, acaba negando ao pai o cristianismo e a própria importância. Personagens principais: Nikolái Petróvitch Kirsánov: Um cavalheiro de quarenta e poucos anos, viúvo, pai de Arkádi, irmão de Pável; possui a pequena propriedade de Marino e está emocionado por ter seu filho de volta. Arkádi Nikoláievitch Kirsánov: Filho de Nikolái Petróvitch; recém-formado na Universidade de São Petersburgo, ele traz seu amigo de Bazárov para Marino, a propriedade do pai. Tornou-se niilista mais por influência de Bazárov do que da convicção. Evguéni Vassílievitch Bazárov: Um estudante de medicina e niilista, que desafia as ideias liberais dos irmãos Kirsánov e os sentimentos tradicionais e ortodoxos russos de seus próprios pais. Pável Petróvitch Kirsánov: irmão de Nikolai Petróvitch; um burguês com pretensões aristocráticas que se orgulha de seu refinamento, mas, como seu irmão, tem uma mente reformista. Após o embate com Bazárov, passa a considerá-lo como um sujeito arrogante, insolente, cínico e vulgar. Anna Serguéievna Odíntsova: Uma viúva rica de 29 anos que entretém os amigos niilistas em sua propriedade; "Livre de quaisquer preconceitos, sem convicções firmes de espécie alguma, não cedia às opiniões alheias." Dostoiévski, também russo, teve toda a sua obra permeada pelo ideário niilista, mas sempre de outra perspectiva, em oposição a Turguêniev, tentando expor a decadência moral da negação de todos os valores, tal como defendia Bazárov. Em sua obra Os Demônios (1862), Dostoiévski insere o seu próprio protótipo de Turguêniev: o escritor e livre-pensador Karmazínov, um personagem bastante caricato, que flerta com a juventude revolucionária presente nessa obra, o que já demonstra a rivalidade entre os dois escritores. Existem também algumas alusões ao livro de Turguêniev no livro Crime e Castigo. Mais tarde, o filósofo Martin Heidegger, intitulou Nietzsche como sendo "o último niilista". Apesar de não ter citado Turguêniev em suas obras, é crível que Nietzsche tenha sido influenciado diretamente por Bazárov e seus contemporâneos. O dramaturgo canadense George F. Walker escreveu a peça de 1988 Nothing Sacred, uma adaptação teatral de Pais e Filhos.
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